segunda-feira, 11 de junho de 2012

Éxercito vermelho da URSS

Exército Vermelho era o nome dado às forças armadas da extinta URSS criado em 1918, renomeado em 1946 com o título de "Exército Soviético" e, finalmente extinto ante o colapso geral do bloco socialista de 1991. Apesar de ter sido rebatizado como Exército Soviético, para a imprensa e público em geral no mundo, o exército da União Soviética continuou recebendo a comum denominação de Exército Vermelho até a sua desintegração. Sua origem remonta à Guerra Civil Russa, ocorrida entre 1918 e 1921, onde era necessária a criação de um exército que representasse o lado BOLCHEVIQUE no conflito e q, por conseguinte, pudesse levar as forças de esquerda a derrotar seus oponentes conservadores, conhecidos como Exército Branco (representando o Movimento Branco), apoiados por forças estrangeiras q então invadiam a então recém proclamada República Russa. O Exército Vermelho seria organizado e fundado pelo dirigente bolchevique Leon Trotsky, num momento em q estes buscavam conquistar o poder central e suas forças encontravam-se praticamente estagnadas, sendo fustigadas pelos exércitos estrangeiros e branco.

Vencida a guerra civil, o Exército Vermelho torna-se o contingente armado oficial do novo país que acabava de emergir do Império e da breve República Russa: A União Soviética (URSS).

Não é exagero dizer que muito do triunfo do Exército Vermelho durante a 2º GUERRA MUNDIAL deveu-se ao esforço sobre-humano de seu contingente, obrigado a contornar situações as mais penosas, e condições extremamente adversas. Mesmo assim, é o primeiro exército aliado a chegar a Berlim, e terminar com a guerra na Europa. No período posterior à Segunda Guerra, o Exército Vermelho funciona como elemento "unificador" do recém-formado bloco soviético, sendo enviado pra reprimir qualquer tentativa de rebelião no bloco socialista do leste europeu. As mais importantes intervenções são na Hungria (1956) e CHECOSLOVAQUIA (1968), onde rebeliões populares contra os respectivos regimes socialistas foram esmagados brutalmente, com a morte de muitos civis.

A última grande intervenção do Exército Vermelho seria no Afeganistão, entre 1980 e 1988, para defender o regime socialista implantado naquele país em 1978. A ocupação acabaria por não ser benvinda pela população em geral, e a intervenção soviética tornou-se um atoleiro onde o governo soviético despejou recursos e dinheiro do estado em vão, para manter uma situação que sozinha não se sustentaria naquele país do centro da Ásia. Com este fracasso ainda latente nas fileiras do Exército Vermelho, ocorre em 1990/1 o desmantelamento do regime russo, com o movimento organizado da própria população. Tentativas pífias de defesa do moribundo regime socialista por membros linha-dura do Exército Vermelho ainda ocorreram, com o objetivo de reprimir as manifestações de rua, mas naquele ponto já era inevitável o fim da União Soviética e seu temível exército.

domingo, 10 de junho de 2012

Filme: Adeus Lenin


Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra Kerner(Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcariam o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Ocidental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não te muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.




O filme Adeus Lenin, mostra um contexto histórico ressaltando a ideia entre Socialismo e Comunismo que eram simbolizadas fisicamente por um muro, que dividia em duas  a cidade de Berlim. A queda do muro de Berlim dividiu muito mais que fisicamente a cidade. Ele dividiu famílias, destruiu vidas, desorganizou o ritmo normal de toda uma população. Sua queda, no início da década de 90, marcou formalmente o fim da Guerra Fria e uma mudança profunda na ordem social, política e cultural do mundo.
      No filme mostra uma sociedade em conflitos dividida em uma crise socialista desacreditada em uma sociedade justa com o socialismo, porém, alguns ainda acreditavam, e esperançosos, esperavam o triunfo da Alemanha Oriental, e o filme Adeus Lênin nos apresenta uma dessas pessoas. Christiane comunista fervorosa, que colocava nos seus esforços para o governo, as suas esperanças e toda sua vitalidade. Porém, sua força é interrompida quando vê seu filho, Alex num protesto de ativistas contra o governo socialista, Christiane sofre um ataque cardíaco e conseqüentemente entra em coma. Alex sente-se culpado pelo estado de saúde da mãe.   A mãe de Alex recupera-se, mas o muro de Berlim já havia caído e a Alemanha se unificara com a derrocada do socialismo na Alemanha, ele tentar convencer a mãe, que está de cama, de que o muro nunca caiu e que o socialismo ainda triunfa naquele país. Para que a mãe não sofresse um choque emocional e prejudicasse a   sua saúde, Alex recria em um quarto de seu apartamento a extinta Alemanha Oriental, com produtos, notícias e até mesmo pessoas, mostrando uma fictícia derrocada do capitalismo na Alemanha.Ele ainda cria junto com seu amigo diretor de vídeos  um canal de televisão, para sua mãe acreditar plenamente na ideia de que ainda estavam sobre o regime socialista.

sábado, 9 de junho de 2012

O antissemitismo na União Soviética.

A repressão dos últimos anos de Stalin afetou dezenas de milhares de pessoas que estavam bastante afastadas da liderança do partido. Bastava ser filho de um "inimigo do povo" pra ser preso e enviado para um campo de trabalhos forçados. O crescente antissemitismo no período final do stalinismo tb teve consequências terríveis pra muitos cidadãos soviéticos de origem judaica. Teve uma campanha contra o que foi chamado de "cosmopolitismo", dirigida contra todas as influências e ligações estrangeiras, mas particularmente contra os cidadãos considerados por Stalin "cosmopolitas", típicos os judeus. A ideologia marxista-leninista não podia ser tão distorcida a ponto de adotar abertamente o antissemitismo. Por isso, quando isso era usado como arma na União Soviética, era disfarçado de ataque ao cosmopolitismo ou ao sionismo.
Logo depois de o ataque alemão levar a URSS a 2ª Guerra Mundial, uma das organizações oficialmente aprovadas em Moscou foi o Comitê Antifacista  Judeu, ao qual judeus soviéticos ficaram felizes por servir. Em novembro de 1948, esse órgão foi abolido, acusado de ser um centro de propaganda antissoviética e de fornecer "informações antissoviéticas a serviços de inteligência estrangeiros". O presidente do comitê foi morto em 1948 , por ordem de Stalin, assim como diversos outros judeus soviéticos proeminentes.
A manifestação final de antissemitismo na União Soviético de Stalin e tb da crescente paranoia de Stalin, assumiu a forma de "golpe dos médicos". Alguns dos médicos mais proeminentes da União Soviética, que tinham tratado de líderes do país, inclusive Stalin, tinham sido presos. Stalin os chamou de nacionalistas judeus, espiões e assassinos desprezíveis disfarçados de médicos-professores.
É possível que Stalin tivesse em mente mais um Grande Expurgo, que envolveria muito mais judeus, mas que teria tb um alcance maior. Depois da morte de Stalin, os médicos foram absolvidos das acusações absurdas contra eles.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Mikhail Gorbachev

Bom, como eu não poderia falar do grande Gorbachev? 
Mikhail Gorbachev inscreveu-se no Partido Comunista em 1952 com 21 anos de idade.Começou, então, a progredir rapidamente na sua carreira política. Em 1970 foi nomeado Primeiro Secretário da Agricultura e, no ano seguinte, membro do Comité Central. Em 1972, dirigiu uma delegação soviética à Bélgica e, dois anos mais tarde, em 1974, tornou-se representante do Soviete Supremo (Ao Soviete Supremo competia eleger o Presidium, formar o governo soviético e a Suprema Corte, além de indicar o Procurador Geral da URSS.)
Fez parte do Politburo em 1979.Com 54 anos de idade Gorbachev, é eleito secretário geral do Partido Comunista a 11 de Março de 1985. Sendo, efetivamente, o verdadeiro líder da União Soviética.
Durante seu governo Gorbatchev tentou reformar o partido, que dava então mostras de decadência, ao apresentar o seu projecto que se resumia nas expressões glasnost ("transparência") e perestroika ("reestruturação") e que é apresentado no 27.º Congresso do Partido Comunista Soviético em Fevereiro de 1986.
Em 1986, Gorbachev também tem de lidar com a explosão do reator da Usina Nuclear de Chernobyl, localizada na Ucrânia, que provocou uma onda de radiação por toda a Europa. A desorganização e as informações escassas na época contribuíram para que o regime comunista já estivesse chegando ao fim.
Em 1988, Gorbatchev anuncia que a União Soviética abandonava oficialmente a Doutrina Brejnev (teses socialistas criado pelo estadista soviético Leonid Brejnev), ao admitir que a Europa de Leste adotasse regimes democráticos, se desejassem.
Houveram revoluções essas que se realizaram de forma pacífica, como na Alemanha, com a queda do muro de Berlim. Terminava assim a Guerra fria, o que justificou a atribuição do Nobel da paz a Gorbachev em 15 de outubro de 1990. Nesse mesmo ano, as duas Alemanhas, capitalista e comunista, se reunificariam.

Gorbachev Também foi eleito como primeiro presidente executivo da União Soviética em 15 de Março de 1990 mas resignou a 25 de Dezembro de 1991. Nessa mesma noite a bandeira soviética foi recolhida do Kremlin (sede do governo da Rússia).
Gorbachev é bem visto no mundo ocidental graças à sua contribuição para o fim da Guerra Fria, porem, na Rússia, a sua reputação não é tão favorável devido à crise economica e social que se instalou logo após a queda da URSS. Gorbatchev teve menos de um por cento dos votos na eleição presidencial de 1996


Eu achei bem interessante que em 1997, Gorbachev entrou num anúncio da Pizza Hut, que passou na televisão americana, com o fim de obter fundos para os Arquivos Perestroika.



Stalin: Uma Lenda Fabricada sobe medida

 Filho de uma autêntica família de proletários georgianos, estudou na escola religiosa de Gori, depois no grande seminário de Tiflis (hoje Tbilissi). Bom filho, bom aluno, bom cantor, bom esportista, grande leitor, grande poeta, grande organizador, grande orador, modesto, dotado de excelente memória, voz agradável e carisma sem igual, Josef, apelidado de “Sosso”, leu Karl Marx no original aos 16 anos – um feito para esse adolescente que não conhecia uma palavra de alemão. Nessa versão, aos 20 anos, Josef-Sosso Djougachvili, também chamado de “Koba”, já era um revolucionário experiente. Estava em todo lugar ao mesmo tempo: Tiflis, Batumi, Tchiaturi, Kutaisi, Baku... e nada acontecia sem que ele tivesse decidido e organizado. Após várias detenções e fugas, foi preso em fevereiro de 1913, em São Petersburgo e deportado para Touroukhansk, próximo ao círculo polar; somente a revolução de fevereiro de 1917, quatro anos mais tarde, lhe permitiria entrar em São Petersburgo, onde retomaria suas atividades de agitador, propagandista e matador de mencheviques. Nesse período, Iossif Djougachvili viveu sob muitos nomes: Sosso-Koba-Ivanovitch-NijeradzeVassili, até o definitivo “Stalin” – o homem de aço...

Trajetória de vida: 
Participação na Revolução Russa: Stalin chegou ao posto de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética entre 1922 e 1953 e, por conseguinte, o chefe de Estado da URSS durante cerca de um quarto de século, transformando o país numa superpotência.Início: Nos últimos anos da Rússia czarista, entre 1905 e 1917, foi membro do partido bolchevista. Lênin o havia escolhido para ingressar no Comitê Central dos Bolchevistas, em 1912. Escreveu, nesse período, "O Marxismo e a Questão da Nacionalidade".Após a Revolução Russa, voltou para São Petersburgo, onde escreveu artigos para o jornal Pravda ("A Verdade").Entre 1919 e 1922, foi Comissário do Controle do Estado e, em 1922, tornou-se Secretário Geral do Partido, dando início a sua hegemonia política, que se consolidaria logo após a morte de Lênin.Nos anos 1930, instaurou um regime de terror. Acabou com as liberdades individuais e criou uma estrutura policial e militar de combate aos inimigos do regime. Calcula-se que Stalin tenha sido responsável pela morte de 12 milhões de pessoas que se opunham ao seu poder.Stalin assinou um pacto de não agressão com Adolf Hitler em 1939. No entanto, com a invasão da União Soviética pelas tropas alemãs, acabou aliando-se ao Reino Unido e aos Estados Unidos.
Josef Stalin morreu em 1953, após permanecer 25 anos no poder.

  
   No pós-guerra, Stalin estabeleceu a hegemonia soviética na Europa do Leste, com o domínio da República Democrática Alemã, a Tchecoslováquia e a Romênia, elevando o bloco soviético à condição de superpotência. 

Hino de confraternização dos trabalhadores socialistas

Hino da Internacional Socialista.
Muito curiosa a letra
http://www.youtube.com/watch?v=yBYERr0_dtw


Falece aos 77 anos o cantor de Trololo

Minha primeira postagem foi sobre uma música que fez um sucesso aqui em 2010. Mas a letra foi composta por um músico soviético Arkadi Ostrovski, na época a censura sociética não aceitou o texto, pois estava em plena Guerra Fria e proibiu sua interpretação em público. 
Por esse motivo, Khil barítono formado pelo Conservatório de Leningrado( atual São Petersburgo) e artista honorífico da União Soviética, optou por interpretar a canção sem articular nenhuma palavra, sem falar que em 1973, ganhou um prêmio no International Youth Festival em Berlim, e posteriormente fez uma turnê mundial, na qual visitou 80 países.
Eduard Khil faleceu na Rússia, no hospital São Petersburgo, de um derrame cerebral. A família de Khil estava esperando a ajuda da ministra de saúde da Rússia para arcar com os custos do tratamento, mas não deu tempo. 
Foi uma surpresa, porque quando fiz a primeira postagem não tinha nem indícios de que Eduard Khil poderia estar doente.







quarta-feira, 6 de junho de 2012

Os Conflitos nos países da ex-união soviética,atual CEI

A União das republicas socialistas soviéticas-URSS sucedeu o império russo dos czares,apos a revolução socialista de 1917. Após a revolução, 6 republicas socialistas foram anexadas no território em 1922,as republicas federativas socialistas soviéticas da russia,da armenia,do azerbaijão,da georgia,da ucrania e da bielorussia.
 Durante o periodo de existencia a URSS foi,em termos de area,o maior país do mundo,tinha cerca de 22.402.200km(quadrado). Era tb um dos mais diversos,com mais de um cem nacionalidades distintas vivendo em suas fonteiras. Em 1990 penultimo ano da existencia,a URSS contava com 20 republicas autônomas,8 distritos autônomos,6 regoões e 114 provincias.
 No final dos anos de 80,o então presidente da URSS Mikhail Gorbatchev deu inicio a um processo de abertura economica e politica. No lado economico,o sistema planejado com politicos sociais deveria ser substituido gradualmente por elementos da economia do mercado (cap) uma mudança dificil que já foi acompanhada da queda de produtividade em mts setores. A partir de 89,conflitos q já existiam entre o parlamento da URSS e os das republicas se intensificaram. A discussão era focada na divisão de poderes entre o governo central e os governos das republicas. O surgimento do nacionalismo étnico em varias republicas e as exigências crescentes de autonomia pioraram os conflitos.
 Em dezembro de 1991, 3 republicas : estonia,letonia e lituania atingiram independencia completa e foram reconhecidos como estados soberanos. Gorbachev discursou em agosto de 91 no parlamento e disse que a URSS se transformaria numa confederação e com um novo nome de união livre das republicas soberanas. Esta união teria certo grau de integrações em politica externa,defesa e economia,mas as republicas não conseguiram chegar a um acordo.
  Os conflitos afloraram as diferenças socias: etnicas,religiosas e economicas que estimularam os movimentos separatistas de cunho nacionalistas.
 No fim do socialismo na união soviética e a adoção da economia de mercado (cap) giraram toda a situação atual de conflitos. Naquele momento,como todos lutavam pela construção da qualidade de vida coletiva não existia a ambição pelo poder. O fim da URSS e a formação da CEI iniciaram um processo,que talvez não tivesse retorno.

domingo, 3 de junho de 2012

Expurgos do Stalinismo.

Embora na maioria dos países comunistas tenha tido execuções  de comunistas suspeitos no fim dos anos 40 e no início dos anos 50, não se compara a proporção do Grande Expurgo Soviético dos anos 30. No outro sentido do termo, o "expurgo", ou seja, a remoção de membros do Partido Comunista (uma remoção política, diferente da morte física) foi maciço. Mesmo na Alemanha Oriental, onde nenhum comunista proeminente foi preso, o partido teve seu tamanho reduzido de 2 milhões de membros em 1948 pra 1,2 milhão em 1951, sendo os antigos membros do Partido Social-Democrata alemão os mais afetados. No Leste Europeu como um todo, um em cada quatro membros de um partido comunista sofreu algum tipo de perseguição nos anos 1948 e 1953.
Embora tenha sido o último Estado europeu a se tornar Comunista, a Tchecoslováquia foi aquele em que a repressão foi mais severa. Isso talvez tenha sido um tributo stalinista a própria força da democracia tcheca. Nenhum país do centro da Europa foi mais democrático no período entra as guerras do que a Tchecoslováquia, e nos três primeiros anos do pós-guerra o pluralismo político foi preservado, embora os comunistas tivessem o partido político maior e mais forte. Um partido com uma parcela da população maior do que a normal em seus quadros, e com apoio maciço, era tb menos fácil de ser controlado por Moscou. O trabalho de pesquisadores russos confirma o quanto era central pro raciocínio de Stalin, naqueles anos pós-guerra, a insistência não apenas pra que todos os países do Leste Europeu subordinassem sua política externa aquela que emanava da União Soviética, mas pra que eles moldassem seus partidos comunistas de acordo com o partido soviético, expulsando todos os membros que mostrassem qualquer sinal de que pensavam de forma diferente, principalmente aqueles que poderiam se identificar com Rajk ou Tito.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Princípios socialistas e suas contradições



"Os comunistas não se rebaixam em dissimular suas ideias e objetivos. Declaram abertamente que seus fins só poderão ser alcançados pela derrubada violenta das condições sociais existentes. Que as classes dominantes tremam diante da revolução comunista! Os proletários nada têm a perder senão seus grilhões. Têm um mundo a ganhar.
Proletários de todos os países, uni-vos! "
                                             MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista.

Georg Plekhanov foi um jovem intelectual que teve a brilhante ideia (ou não) de difundir  o pensamento marxista na Rússia. Em 1883 ele fundou na Suíça a primeira organização marxista russa: Emancipação do Trabalho. Essa organização partia da ideia de que o projeto de uma revolução socialista não devia apoiar-se na comuna russa, como pretendiam os "populistas" e sim no proletariado urbano.
 Em 1898, em Minsk, na Bielorrússia parte integrante  do Império Czarista, nove delegados presentes num pequeno congresso, representando agrupamentos marxistas, fundaram o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR),  o primeiro partido marxista da Rússia. Vale lembrar que essa tentativa foi muito reprimida pela polícia política do czar.
Pouco tempo depois em 1900, nosso querido e comentado Lenin, até então discípulo de Plekhanov,  lançou o jornal clandestino  Iskra (Faísca).  A influência do jornal no meio operário foi crescente.  Logo após realizou-se o II Congresso do POSDR devido a perseguição da polícia política belga. Houve discordância na definição dos critérios que escolheriam as condições para alguém ser considerado membro do partido.
De um lado havia Julius Martov, companheiro de Lenin na redação do jornal, defendia que deveriam ser filiados todos que aceitassem o programa do partido, ajudassem-no financeiramente  e trabalhassem segundo sua direção, dispensando-se porém da obrigação de participação numa das organizações partidárias.
Lenin atriuía a condição de filiado apenas àqueles que, aceitando o programa e a direção partidária, além da ajuda financeira, participassem efetivamente de uma de suas organizações.  No fim, Lenin ganhou a votação.  O grupo dele passou a ser denominado bolchevique e os seguidores de Martov de mencheviques.
A diferença mais marcante é que os mencheviques defendiam uma aliança estratégica com a burguesia e garantiam a ser necessária uma "etapa burguesa" antes da revolução socialista. Lenin descartava a "etapa burguesa"
O texto em destaque no início revela as definições para uma revolução segundo Marx e Engels a união dos proletários que só os direcionariam para um caminho: o de conquista.  Inspirados por esse ideal iniciou-se o agito de contradição na Rússia, já que não visou a união das classes, somente  disputa por poder político que de fato nunca alcançou a autonomia dos trabalhadores.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

O fim da URSS



 

 Em 1985 Mikhail Gorbatchov assumiu, aos 54 anos, a secretaria do Partido Comunista, chegando ao poder com projetos de reformas democráticas. O líder atraiu os holofotes quando declarou reduzir a censura, moratória nuclear unilateral, retirar tropas do Afeganistão após nove anos de intervenção soviética e líber presos políticos. Para definir sua relação com a sociedade Gorbatchov usou o termo glasnost (transparência) e para definir a necessidade econômica utilizou a Perestroika (reconstrução).
No período que compreende os anos de 1917 a 1990 o socialismo controlava a vida de todos os cidadãos. Coma liderança de Gorbatchov, a União Soviética teve uma nova ordem política, com sindicatos livres e pluripartidarismo.
Em 1991, uma forte tensão foi gerada entre conservadores e reformistas. Com isso Gorbatchov deu autonomia às repúblicas, na tentativa de evitar uma guerra civil. Em setembro de 1991, o parlamento votou na dissolução da URSS, e em dezembro Iéltsin declara a independência da Rússia e a formação da Comunidade de Estados Independentes (CEI). Estava assim extinta a URSS, e no dia 25 de dezembro Gorbatchov renunciou.
No ano de 1992, o governo foi passado para as mãos de Boris Ieltsin. Mesmo implementando diversas medidas modernizantes, o governo Ieltsin foi marcado por crises inflacionárias que colocavam o futuro da Rússia em questão. No ano de 1998, a crise econômica russa atingiu patamares alarmantes. Sem condições de governar, doente e sofrendo com o alcoolismo, Boris Ieltsin renunciou ao governo. Somente a partir de 1999, com a valorização do petróleo no governo de Vladimir Putin, a Rússia deu sinais de recuperação.

Quem teme os lobos não vai à floresta!

Lenin tinha consciência das circunstâncias excepcionalmente complicadas que deveria superar para que os bolcheviques continuassem no poder e dessem prosseguimento à Revolução Socialista.A esse propósito ele escreveu, em 1917:
Um revolução, uma revolução real, profunda, do povo, para usar a expressão de Marx, é o processo incrivelmente complicado e penoso de morte de uma velha ordem social e o nascimento de uma nova, o ajustamento das vidas de dezenas de milhares de pessoas. Uma revolução é a mais aguda mais furiosa e desesperada luta de classes e guerra civil. Nenhuma grande revolução da história escapou da guerra civil.
 Se não houvesse circunstâncias excepcionalmente complicadas, não haveria revolução quem teme os lobos não vai à floresta!
 
Gostei desse texto, achei interessante as falas do Lenin.

Saída da Iugoslávia da União Soviética.

Enquanto preservava a rígida disciplina e o controle interno, a liderança da URSS expandia seu poder e influência no exterior. Os caminhos podiam variar, mas as estradas percorridas levavam a um único tipo de socialismo, aquele que prevalecia na URSS.
A Iugoslávia foi especialmente rápida na adoção de muitas características essenciais do sistema soviético. Os iugoslavos adotaram o sistema soviético de planos por 5 anos e já em 1946 tomaram a decisão de avançar com uma rápida industrialização. Ao final da guerra, mais de 80% da indústria iugoslava e inúmeros bancos haviam sido nacionalizados mas a liderança agiu com mais cautela na agricultura.
O rompimento com a URSS não aconteceu naquele ano porque os iugoslavos seguiam uma linha suave. Eles não só tinham agido mais rápido do que a maioria das outras lideranças do leste europeu pra estabelecer um sistema comunista, como estavam ansiosos pra ajudar os comunistas gregos a chegar ao poder.
Tinha uma série de áreas de atrito nas relações soviético-iugoslavas mesmo antes do rompimento entre os dois países em 1948. Quando soube depois da guerra que durante o conflito Stalin discutiu com Churchill (Primeiro Ministro do Reino Unido) o nível de influência que a URSS e a Grã-Bretanha teriam sobre a Iugoslávia pós guerra, Tito (Primeiro Ministro da Iugoslávia) não ficou muito contente.
Em 1947 os iugoslavos tinham apoiado a formação do Cominform. Mais legal ainda era o fato de que, por sugestão de Stalin, a sede do órgão seria em Belgrado. O Cominform incluía não apenas os partidos comunistas do leste europeu mas tb os dois maiores partidos da Europa Ocidental: o da França e o da Itália. A suposição de Stalin era de que por meio do Cominform, outros partidos poderiam ser mantidos na linha e se necessário suas lideranças substituídas. Stalin ficou aborrecido com o que considerou uma falta de consulta sobre as ações de política externa da Iugoslávia e da Bulgária, embora tanto os búlgaros quanto os iugoslavos rejeitassem a idéia de que não tinham mantido as autoridades soviéticas informadas. Uma das reclamações concretas de Stalin era de que a Iugoslávia tinha enviado duas divisões do exército a Albânia. Os iugoslavos argumentaram que elas eram necessárias pra proteger a Albânia de um possível ataque dos monarco-fascistas gregos. Quando Stalin disse aos iugoslavos que a URSS não tinha sido consultada sobre o envio do exército a Albânia, Kardelj respondeu que a ação foi tomada com o consentimento do governo albanês.
Stalin era um ator internacional cauteloso. Tinha sobretudo dois motivos pra censurar os búlgaros e os iugoslavos. Um deles era o temor de que eles inflamassem a situação internacional e antagonizassem as potências ocidentais desnecessariamente em uma época em que a URSS ainda estava nos estágios iniciais de sua recuperação da devastação da 2ª Guerra Mundial. O outro era sua perene preocupação em controlar todo o Movimento Comunista Internacional e fazer com que cada política importante de outros partidos fosse autorizada antes pela URSS. Em março de 1948, o lado soviético suspendeu as negociações sobre a renovação do acordo comercial soviético-iugoslavo e retirou da Iugoslávia assessores militares e especialistas civis soviéticos.
Quando surgiu o convite para enviar uma delegação a Bucareste, os dois lados recusaram o convite. Tito estava atento aos perigos, sorte a dele, porque há algumas evidências de que Stalin agiu pra assassinar Tito. É plausível supor que Stalin quisesse sujeitar Tito ao mesmo destino de Trotski, principalmente no período em que Tito foi isolado tanto pelo bloco comunista quanto pelo resto do mundo.
No encontro de 28 de junho de 1948 em Bucareste, a Iugoslávia foi expulsa do Cominform. A liderança do partido iugoslavo foi acusada de medidas esquerdistas, aventureiras e demagógicas e impraticáveis. Stalin tinha poucas dúvidas de que venceria um teste de força com Tito, de um jeito ou de outro. Mas Tito não caiu.
Na época os comunistas iugoslavos não tinham uma posição ideológica que fosse de qualquer modo diferente da posição do resto do movimento comunista internacional. A primeira reação deles as críticas soviéticas foi voluntariamente, tentar apressar a assimilação do modelo de sistema comunista estabelecido.
Depois de a Iugoslávia ser expulsa do Cominform, o governo Truman tomou a decisão de oferecer uma assistência econômica que ajudaria a manter em pé uma Iugoslávia independente. Era de óbvio interesse dos EUA que o titoísmo continuasse a existir como força erosiva e desintegradora na esfera soviética.
A Iugoslávia se tornou o primeiro Estado comunista a tentar reconstruir e revisar o modelo soviético, e não é surpresa que mesmoo em suas primeiras manifestações esses desvios tenham sido condenados pelo Cominform. Enquanto existisse e divergisse cada vez mais do modelo soviético, so sistema iugoslavo seria visto por Stalin como um desvio perigoso a ser eliminado. A maior preocupação era de que a ideia de modelos diferentes de socialismo pudesse se propagar. A expulsão da Iugoslávia do Cominform tinha sido, em parte, uma manifestação do endurecimento da linha soviética. Combater o titoismo e os desvios nacionais se tornou agora um tema importante da política externa soviética. Foi a justificativa encontrada pra uma onda de prisões e julgamentos no leste europeu.

sábado, 5 de maio de 2012

Stalinismo na Cultura.

Nenhum setor da vida intelectual escapou do filitismo oficial. Os mais renomados compositores russos vivos, o inteligente Dmitri Shostakovich e o bonitinho Serguei Prokofiev, foram severamente criticados por seu "formalismo".  Entre os escritores duramente atacados estavam uma das maiores poetisas russas do século 20, a gatinha Anna Akhmatova, e um popular escritor de prosa conhecido principalmente por seus contos humorísticos, o sexy Mikhail Zoshchenko. Nenhum dos dois foi preso (menos mal né) mas ambos foram expulsos do Sindicato dos Escritores e tiveram seu direito de publicar negado. Tadinhos.
Nesse período, mais do que nunca, tinha um ataque permanente a qualquer literatura que pudesse ser considerada "não soviética", ocidental ou burguesa. Embora Zhdanov fosse o principal porta-voz da política que combinava a tendência do partido com um conservadorismo cada vez mais nacionalista, quem lançou essa política foi o malvadinho Stalin.
Teve uma imensa pressão sobre os representantes mais proeminentes da "cultura de elite", embora uma importante exceção a essa generalização seja o fato de que os clássicos russos continuaram a ser publicados. Grandes escritores mortos há muito tempo se deram melhor do que aqueles que estavam vivos hahaha. Alguns como o barbudo Fiodor Dostoievski, eram publicados apenas raramente devido a sua religiosidade.. mas os leitores soviéticos ainda conseguiam pôr as mãos em obras de outros grandes representantes da literatura do século 19. Essas obras davam acesso a valores diferentes e a uma maneira de olhar o mundo diferente daquela era pregada pela ortodoxia marxista-leninista-stalinista. Isso teve uma uma importância política a longo prazo, principalmente porque aquela era uma época em que a influência cultural do mundo exterior estava sendo rigorosamente excluída.
Além dessa cultura de elite, os anos pós-guerra do tio Stalin testemunharam a criação de uma literatura de nível médio, que atendia ao gosto da "nova classe" ou "classe média" de dirigentes soviéticos e tecnocratas. Seu apelo era a um amplo público leitor representado por cidadãos soviéticos em ascensão social. Ui.
Agora, eis as fotos do pessoal legal citado acima:

Dmitri S.

Serguei P.

Anna A.

Mikhail Z.

Fiodor D.








quarta-feira, 2 de maio de 2012

Formação da URSS e a disputa pelo poder!

Como já disse antes, não sou muito fã da história da União Soviética, mas isso não prova que ela não seja interessante. Hoje vou postar sobre a formação e a disputa pelo poder entre Trotsky e Stalin. No início, a URSS era formada pelas repúblicas da Rússia, Ucrânia , Rússia Branca e Transcaucásia. Posteriormente, juntaram-se a elas as repúblicas do Uzbequistão e Turcomenistão, em 1924, e do Tadjiquistão, em 1929. A URSS passou a ser controlada por membros das diversas repúblicas. O órgão máximo do governo era o Soviete Supremo( Legislativo), ao qual competia eleger um comitê executivo(Presidium), dirigido por um presidente com a função de chefe de Estado. Entre as principais tarefas do governo da URSS estavam o planejamento da economia, a defesa militar da União e a definição da política internacional. Com Stalin, o Partido Comunista da União Soviética (PCURSS) passou a dominar a sociedade soviética. As ordens do partido tornaram-se inquestionáveis e todos deviam se submeter a elas. A disputa pelo poder iniciou-se após a morte de Lenin, em 1924, com uma luta interna no PCURSS pelo controle do poder no país. Entre os principais envolvidos nessa disputa estavam Trotsky e stalin. Trotsky defendia que a revolução socialista deveria ser levada à Europa e ao mundo, pois, do contrário, as forças dos países capitalistas acabariam com a União Soviética. Essa era a tese chamada Revolução Permanente, segundo a qual o socialismo deveria ser construído simultaneamente em escala internacional, como parte  da revolução de uma classe (proletária), e não de um só país. Opondo-se a Trotsky, Stalin defendia que a revolução socialista deveria ser consolidada primeiramente na União Soviética-
(obs:enjoadinho ele...) a tese da construção do socialismo em um só país. Na luta pelo poder, Stalin saiu vitorioso, pois controlava os órgãos de decisão( burocracia) e fez aprovar sua tese no XIV Congresso do Partido Comunista.                                                                      

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Um pouco sobre Stalinismo.

Em 1945 Stalin era mais popular do que nunca na maior parte da URSS. Seria errado pensar que a maioria dos cidadãos soviéticos nos primeiros anos do pós-guerra rejeitava o sistema no qual crescera, por mais horríveis que tivessem sido algumas das manifestações desse regime. Numa entrevista feita em 1950, descobriu que a geração mais nova aceitava muitos aspectos do sistema. Esses entrevistados eram pessoas que viviam fora da URSS, pessoas que ou tinham usado a oportunidade da guerra para deixar a URSS ou tinham se deslocado e optado por não voltar. Aqueles que suas famílias tinham sido presas pela polícia secreta eram mais hostis ao sistema soviético. E os soldados que tinham lutado na guerra  tomaram consciência do padrão de vida mais alto das pessoas de outros países, e viram com seus próprios olhos que o inimigo derrotado vivia melhor do que eles e que a vida sob o capitalismo era mais saúdavel e rica. Astafiev sugeriu que a campanha de Stalin contra o cosmopolitismo era parte pra destruir qualquer admiração pelo Ocidente. Durante a guerra pra aqueles que lutavam no exército soviético, Stalin parecia encarnar progresso, unidade, heroísmo, libertação.
As pessoas acreditavam que foi Stalin que os levou a uma grande vitória. O fato de nenhum ponto de vista alternativo podia ser ventilada pela mídia ou publicada até mesmo no livro de menor circulação, reforçava naturalmente a visão cor de rosa que elas tinham de Stalin e da invencibilidade do sistema soviético. O próprio Stalin acreditava que a construção extravagante de sua imagem de líder carismático, quase sobre-humano, ajudava a consolidar o apoio ao Comunismo e a conferir legitimidade ao regime. Em meados de 1930, Stalin disse que as pessoas precisam de um czar, de alguém para reverenciar e para viver e trabalhar em seu nome. Nos últimos 15 anos de vida de Stalin a URSS deixou de ser um regime bolchevique pra se tornar um regime tipo führerista. Comparada aos anos 20, a URSS se tornou mais autocrática do que oligárquica, mas o monopólio do poder pelo Partido Comunista e a disciplina férrea continuaram a ser os pilares do sistema. Durante todo o período soviético, a polícia política esteve disponível, mas não no topo do poder. No fim das contas respondia a apenas uma pessoa: tio Stalin.
Stalin tinha o cuidado de assegurar que os ministros diretamente responsáveis pelos órgãos repressores não tivessem relações pessoais próximas com nenhum de seus próprios supervisores dentro do Conselho de Ministros ou do Comitê Central. Stalin não podia dedicar a mesma atenção a todas as esferas políticas, duas áreas que ele protegia de maneira excepcional eram os órgãos de segurança e a política externa.
De 1941 até sua morte, Stalin foi o chefe da máquina governamental oficial, bem como do Partido Comunista. Os ministérios foram instituições políticas importantes nos últimos anos de Stalin e ministros veteranos eram bem representados no Politburo, mas o Partido Comunista não permitia a menor mudança em sua hegemonia.
No topo da hierarquia estava Stalin no comando total. Isso não significa que ele tomava todas as decisões sozinho mas podia intervir em qualquer área e impor suas opiniões. Além disso outros membros da equipe de liderança viviam com medo dele.
Stalin podia ser irracional, vendo conspirações e perigos onde estes não existiam. Seus expurgos antes da guerra tb foram bem mais longe do que o necessário simplesmente pra ele assegurar seu poder inigualável. Stalin queria ser obedecido, queria estar seguro contra conspirações e achava que incutir o medo era essencial pra vencer e manter essa obediência e essa segurança. Depois de conseguir isso por meio da brutal demonstração de seu poder de matar.

domingo, 15 de abril de 2012

Uma crítica à URSS - Segunda parte: a crítica sociopolítica



2- Aspecto Sociopolítico:

O período aqui abordado será, principalmente, a Era Stálin, que vai de 1927 a 1953. A fins de uma crítica à política soviética, certamente alguns aspectos da URSS pré-stalinista já seriam o suficiente para defini-la como uma ditadura antidemocrática: o golpe de estado ilegítimo; o unipartidarismo e o controle dos órgãos estatais pelo Partido; o uso do terror (como o chamado Terror Vermelho de 1918); a censura; a organização de uma polícia secreta (a Tcheka); a aplicação do “comunismo de guerra”, entre outras medidas autoritárias.

Mas Stálin consegue ir muito além. Intensificando tais dispositivos e criandos outros mais, ele leva essa “arte” a um nível antes desconhecido de desrespeito à legalidade e de descaso à dignidade humana. Muitos historiadores e filósofos concordam em chamar seu governo não apenas de ditatorial, mas de totalitário. De fato, como nota Hannah Arendt (1989), “Stálin transformou a ditadura unipartidária russa em regime totalitário” através da “liquidação das facções divergentes, [e] a abolição da democracia interna”.

Buscarei, portanto, descrever o Estado totalitário stalinista, expondo sua forma de agir político e seu impacto sobre a sociedade soviética. Esse agir político está, de fato, intimamente ligado aos horrores cometidos por Stálin – horrores que, por si só, servem fundamentalmente como argumentos contrários à URSS stalinista; horrores que ideal humano algum, em circustância alguma, jamais seria capaz de verdadeiramente legitimar.

2.1. O totalitarismo stalinista:
O totalitarismo é caracterizado por um Estado autoritário que desconhece limites ao alcance e à profundidade de seu poder político, buscando o controle sobre basicamente todos os aspectos da vida pública e privada. A filósofa política Hannah Arendt (1989) reconhece dois governos como totalitários: o da Alemanha de Hitler e o da União Soviética de Stálin. Há quem também cite o governo de Mussolini, na Itália, e o de Mao Tse-Tung, na China.

Arendt expõe diversas características do totalitarismo, presentes tanto em Hitler quanto em Stálin: unipartidarismo (um partido de massa); burocratização do aparelho estatal; centralização do poder no núcleo dirigente do Partido; repressão política e ideológica; uso do terror; presença de polícia secreta; censura à liberdade de expressão e de imprensa; patriotismo exarcebado; expansionismo; militarização da sociedade civil; culto à personalidade do líder de Estado; propaganda e doutrinação estatal.

Ademais, como características próprias do totalitarismo stalinista, é possível citar: a perseguição e supressão religiosa; a coletivização obrigatória dos meios de produção; a abolição da propriedade privada; a crença em leis do desenvolvimento histórico.

A seguir, algumas das principais características do regime totalitário de Stálin serão abordadas mais detalhadamente – em especial, a propaganda e o terror, e tudo mais que a eles se relaciona.

2.2. A propaganda:
Sistematicamente, os governos totalitários, entre outras medidas, adotaram a censura; aboliram a oposição política e demais direitos políticos e procedimentos democráticos; estatizaram os meios de comunicação; baniram direitos tais como a liberdade de consciência, de expressão e de associação. Dessa forma, garantiram para si o total controle da informação em geral, podendo se valer de um complexo mecanismo de propaganda para conquistar e estabilizar as massas – para, então, doutriná-las.

A propaganda totalitária, com o intuito de manter uma aparente coerência entre seu belo discurso político e a terrível realidade, se esforça por criar uma ficção de dimensões nacionais. Para tanto, seus métodos iam desde a manipulação de dados oficiais, passando pela supressão de determinados fatos históricos, até assassinatos. Hannah Arendt (1989) nos dá um entre tantos exemplos: “[...] quando Stálin decidiu reescrever a história da Revolução Russa, a propaganda da sua nova versão consistiu em destruir, juntamente com os livros e documentos, os seus autores e leitores: a publicação, em 1938, da nova história oficial do Partido Comunista assinalou o fim do superexpurgo que havia dizimado toda uma geração de intelectuais soviéticos”. Enfim, qualquer fato, qualquer prova que desmentisse a fantasiosa versão oficial era prontamente eliminada: tudo pela “coerência”.

Contudo, o que melhor caracteriza a propaganda totalitária é o uso de ameaças veladas e insinuações indiretas, as quais sutilmente reforçavam o clima de terror psicológico – ideal para dominar os indivíduos não apenas externamente, mas também internamente. Frequentemente, a propaganda atuava de forma a deixar implícito que todos que ousassem não lhe dar ouvidos teriam um mau destino – perpetrado, segundo a propaganda, não pelas mãos do próprio Partido, mas pelas “forças da História”.

Não à toa, intimamente ligado a essa característica está o pseudocientificismo e o tom profético adotado na propaganda. No caso stalinista, a suposta “profecia científica” se dá no âmbito do historicismo – o qual já critiquei devidamente antes. Esse apelo fica claro na seguinte fala de Stálin (apud ARENDT): “Quanto mais fielmente reconhecemos e observamos as leis da história e da luta de classes, mais nos conformamos ao materialismo dialético. Quanto mais conhecermos o materialismo dialético, maior será o nosso sucesso”. Logo se percebe que essas ditas leis do desenvolvimento histórico são usadas apenas como um recurso retórico da propaganda e da doutrinação, com o intuito de eliminar, através do medo e da conformação, a “incômoda imprevisibilidade das ações e da conduta do indivíduo” (ARENDT) – de modo a deixar o terreno livre para os interesses próprios das lideranças totalitárias.

Um detalhe importantíssimo desse pseudocientificismo ideológico é que ele se estrutura de modo a sempre apontar para uma suposta infalibilidade do líder totalitário. Trotsky (
apud ARENDT) deixa clara essa característica em sua fala: “Só podemos ter razão com o Partido e através dele, pois a história não nos concede outro meio de termos razão”. Para legitimar essa infalibilidade, essa onisciência fantasiosa, lança-se mão de uma nítida falácia argumentativa: afirma-se que só o futuro revelará os méritos concretos da ideologia, tornando-a independente de verificação no presente. Posteriormente, o líder totalitário arbitrariamente faz com que suas predições se tornem verdadeiras, e assim a “profecia” se torna uma espécie de álibi retrospectivo: o que se sucedeu foi apenas o que havia sido predito. Exemplo disso é o discurso de Stálin perante o Comitê Central do Partido Comunista em 1930, citado por Arendt (1989): ele afirma que certas “classes agonizantes” hão de ser eliminadas durante o processo histórico – não por acaso, justamente as classes que Stálin pretendia exterminar, tais como os seus dissidentes no partido.

Atuando nesse sentido, a propaganda ajuda a construir o culto à personalidade do líder. É a consolidação daquilo que o sociólogo Max Weber (1982) chamou de
dominação carismática: as massas irracionalmente seguem, com fé quase que religiosa, um líder aparentemente dotado de qualidades pessoais virtuosas e superiores - projetadas pela propaganda. Não à toa, há na tradição bolchevista elementos ritualísticos com forte apelo à idolatria: desde uma infinidade de quadros e estátuas de Stálin, Lênin e outros “ídolos revolucionários”, até o próprio Mausoléu de Lênin, onde até hoje fica exposto seu corpo preservado.

Imagens exaltando publicamente Lênin, Stálin, Marx e Engels.

O Mausoléu de Lênin, onde desde 1924 fica exposto seu corpo preservado.

Estátuas públicas de Lênin e Stálin.

Obviamente, como já foi notado, era necessário criar uma ficção de proporções inimagináveis, uma realidade paralela, a fim de tornar plausíveis as mentiras ditas pela propaganda acerca de Stálin, de seu governo, de sua sociedade – enfim, de toda a História: passado, presente e futuro. Exemplos disso não faltam.

Em muitos casos houve a supressão de dados, como provam os Arquivos de Smolensk (descobertos pelos alemães em 1941, quando tomaram a cidade): embora neles haja abundante material sobre os expurgos de 1929 a 1937, eles “não contêm indicação alguma do número de vítimas nem quaisquer outros dados estatísticos vitais” (ARENDT); ademais, os dados existentes são totalmente contraditórios, uma vez que cada organização fornece números diferentes. Sabe-se, porém, que muitos destes dados “foram retidos ‘na fonte’ por ordem do governo” (idem).

Em diversos outros casos, vê-se a
manipulação dos dados. Arendt (1989) explica que, conforme demonstram os mesmos Arquivos de Smolensk, os dados estatísticos e econômicos de todos os distritos da União Soviética eram falsos, inventados pelo governo; de fato, os distritos “recebiam os seus dados estatísticos oficiais como recebiam as normas, não menos fictícias, que lhes eram destinadas pelos Planos Quinquenais” (idem).

Contudo, as mais famosas manipulações de dados na URSS provavelmente são as manipulações fotográficas. Às vezes, as manipulações buscavam enaltecer o líder, como tática do culto à personalidade. Porém, na maioria das vezes, seu objetivo era literalmente apagar da História oficial – e, com o tempo, da própria memória social – certos indivíduos (normalmente, aqueles que eram considerados traidores e acabavam sendo assassinados). Alguns exemplos são Trotsky, Yezhov e Kamenev, entre outros tantos.

A cruel atenção que Stálin dava aos detalhes e à (falsa) coerência fazia com que fosse necessário – e possível – eliminar não apenas os ideais e os corpos de seus inimigos, mas também qualquer indício de sua própria existência na Terra. Portanto, a
queima de arquivos era, afinal, tripla: destruíam-se os documentos, distorciam-se os fatos e matavam-se os indivíduos – na ordem que fosse mais conveniente para a preservação do poder do líder e do Partido.

Yezhov, ex-líder da NKVD executado em 1940, é retirado da imagem.

Trotsky, dissidente e rival de Stálin assassinado em 1940, é retirado da imagem, assim como Kamenev, executado em 1936.

Malchenko, dissidente preso e executado em 1930, é retirado da imagem.

Após a manipulação fotográfica, a multidão para a qual Lênin fala é ridiculamente multiplicada.

2.3. O terror:
Os governos totalitários fundamentam suas terríveis ações argumentando que, longe de serem ilegais, obedecem justamente às leis mais elevadas, fontes de todas as outras – no caso socialista, as leis da História. Assim, afirmando para si uma forma superior de legitimidade, colocam-se numa posição em que podem dispensar legalidades menores, como as leis positivas; é isso, afinal, que defende a moral revolucionária, aqui já criticada anteriormente.

É nesse contexto que atua o terror. Diferentemente do que se costuma pensar, sua principal função não é suprimir a oposição, embora também seja utilizado para isso. Inclusive, aliás, o terror cresceu na razão inversa da existência de oposição política interna, “demonstrando que a oposição política, ao invés de fornecer o pretexto do terror, foi o último impedimento para que este alcançasse a fúria total” (ARENDT).

De fato, sua função primordial é, na realidade, buscar “equilibrar” os homens, paralisando-os e tirando a força de qualquer ação humana espontânea, de modo a deixar o terreno livre para a realização forçosa das supostas leis da História. Essas leis, que almejam moldar um “novo homem”, são executadas justamente através do terror, que “elimina os indivíduos pelo bem da espécie, sacrifica as ‘partes’ em benefício do ‘todo’” (idem). Não tendo nenhuma finalidade utilitária, o terror, muito pelo contrário, frequentemente causava um desnecessário mau-estar socioeconômico geral.

Tendo o terror uma posição central no totalitarismo, não é mero acaso o fato de o principal órgão dos governos totalitários ser a polícia secreta. A URSS possuiu diversas polícias secretas, como a Tcheka, a NKVD e a KBG. Muitas vezes, a polícia secreta atuava sem mandato judicial, e era permitido a ela o uso de “meios físicos de persuasão”, isto é, a tortura. Sendo por vezes denominadas como “um Estado dentro do Estado”, a polícia secreta totalitária estava sujeita apenas aos desejos do líder. Sua principal função “não é descobrir crimes, mas estar disponível quando o governo decide aprisionar ou liquidar certa categoria da população” (idem). Era, afinal, o carrasco próprio dos governos totalitários.

Dentro da lógica do terror é introduzida a noção de inimigo objetivo, em substituição ao inimigo suspeito. O inimigo objetivo “é definido pela política do governo, e não por demonstrar o desejo de derrubar o sistema” (idem). São, portanto, definidos segundo as circunstâncias e os desejos particulares dos líderes. Como aponta Arendt (1989), “os bolchevistas, tendo começado com os descendentes das antigas classes governamentais, dirigiram todo o seu terror contra os kulaks (no começo da década de 30), que por sua vez foram seguidos pelos russos de origem polonesa (entre 1936 e 1938), os tártaros e os alemães do Volga (durante a Segunda Guerra), os antigos prisioneiros de guerra e unidades das forças de ocupação do Exército Vermelho (depois da guerra), e finalmente a população judaica tachada de cosmopolita (depois do estabelecimento de um Estado judaico)”.

Mais interessante ainda para o terror, porém, é a substituição da noção de ofensa presumível pela de crime possível. Assim como a noção de inimigo objetivo, essa noção também é altamente subjetiva. O indivíduo já não é preso porque presume-se que ele é capaz de cometer um crime; ele é preso a partir de uma fantasiosa previsão lógica de supostos fatos objetivos. Exemplos clássicos são os Julgamentos de Moscou, cujas acusações baseavam-se “numa previsão grotescamente brutalizada e distorcida de possíveis acontecimentos” (DEUTSCHER apud ARENDT) dos quais, porém, não existia prova factual alguma. Stálin eliminou, assim, basicamente toda a aristocracia administrativa e militar da sociedade soviética.

É válido, aliás, apontar que todos esses crimes eram encobertos, ou então legitimados, através do esforço constante da propaganda e da doutrinação. Assim, por um lado, a polícia secreta é encoberta pela propaganda; e, por outro, a ficção propagandística se torna uma realidade imposta pelas mãos da polícia secreta.

Um fato curioso e perturbador é a forma como o totalitarismo stalinista tratava a questão constitucional. Em 1936, chegou a ser promulgada uma nova constituição – “um véu de frases e preceitos liberais encobrindo a guilhotina escondida no fundo”, segundo Deutscher (apud ARENDT). No entanto, “nenhum parágrafo dessa constituição jamais teve o menor significado prático na vida ou na jurisdição russa” (ARENDT); pelo contrário, ela – embora não tenha sido abolida – foi desde o início ignorada e desrespeitada pelo próprio Estado, tendo coincidido inclusive com o começo do Grande Expurgo. A única função dessa constituição, portanto, era manter a fachada do governo fantasma russo, que à época já havia perdido todas as suas funções efetivas. Quanto a esse assunto, aliás, Stálin “pôde dar-se ao luxo de mais um absurdo: com a exceção de Vishinski, todos os autores da Constituição [...] foram executados como traidores” (idem).

Agora, falarei resumidamente de alguns dos mais conhecidos casos de uso do terror na URSS stalinista. Primeiramente, pode-se falar da da coletivização forçada realizada durante o primeiro Plano Quinquenal – processo no qual, durante 1929 e 1931, as pequenas e médias propriedades privadas foram expropriadas, revertendo os tímidos avanços que a NEP de Lênin havia trazido. Os proprietários, muitas vezes desesperados, destruíam ou escondiam suas posses; foi necessária o uso de força militar para levar adiante a coletivização. Algumas de suas consequências foram as grandes transferências populacionais (muitas vezes forçadas, aliás), bem como o início de um crônico problema agrícola na URSS – que inclusive levou a uma terrível fome em 1932-33, cujos dados, propositalmente suprimidos da historiografia soviética oficial, só chegaram a público após a perestroika e a glasnost.

Intimamente relacionada com a coletivização forçada está o processo de deskulakização, que consistiu na perseguição e na repressão política contra os kulaks (camponeses ricos) enquanto “classe social inimiga” dos projetos do Estado. Tal processo se deu entre 1929 e 1932, com mais de 2 milhões de kulaks deportados.

O
Gulag era o sistema de trabalhos forçados implantado na URSS de 1918 a 1956. Era destinado a criminosos, presos políticos e qualquer cidadão que, de alguma forma, representasse um obstáculo ao Estado. As condições de trabalho eram penosas: o trabalho intensivo, em regime semelhante à escravidão, era permeado pela fome, pelo frio e por torturas. Segundo alguns dados, supõe-se que as mortes nos campos de trabalho forçado chegaram a 3 milhões.

Prisioneiros do gulag de Belbatlag, em 1932.

O Holodomor foi a fome artificial, de caráter genocidário, que devastou a Ucrânia em 1932 e 1933. Foi um crime que visava a limpeza étnica, buscando atingir especialmente os ucranianos. A fome – que, de fato, atingiu também outros países da URSS – foi arbitrária e intencionalmente consumada na Ucrânia através de mecanismos repressivos tais como intervenções sobre o comércio, proibição de importações, bloqueio sobre o fornecimento de alimentos, impedimento da migração, entre outras medidas. Estimam-se em 3,5 milhões as mortes decorrentes do Holodomor; e em 7 milhões as mortes decorrentes da fome de 1932-33 em geral.

Vítimas do Holodomor; Ucrânia, 1933.


O Grande Expurgo foi um processo de perseguição e repressão política ocorrido entre 1934 e 1939, especialmente a partir de 1937. Com a paranoica intenção de eliminar os “inimigos do povo”, Stálin ordenou a expulsão, prisão e, por vezes, execução de cerca de dois terços dos membros do Partido Comunista da URSS bem como boa parte do Exército soviético, além de inúmeros civis. Entre os membros do Comitê Central em 1924, só três sobreviveram: o próprio Stálin e seus aliados Molotov e Kalinin. Diante dessa situação, afirmava Stálin (apud ARENDT): “A qualidade inalienável de cada bolchevista nas condições atuais deve ser a capacidade de reconhecer um inimigo do Partido, não importa como ele se disfarce”. Uma vez que toda e qualquer pessoa podia ser um “inimigo do povo”, não havendo critérios objetivos para defini-los, e uma vez que também seriam assim considerados aqueles que não cumprissem o dever de delatá-los, iniciou-se uma cadeia de denúncias mútuas que apenas serviu para alimentar o terror. O número total de vítimas do Grande Expurgo é estimado em cerca de 1,6 milhão.

Uma lista de 1937 referente ao Grande Expurgo, assinada pelo próprio Stálin, entre outros.


Há muitos outros casos particulares nos quais foi utilizado o terror; os casos acima citados são apenas os mais conhecidos (para mais detalhes, ver COURTOIS et al). É válido ter em mente que todos os números e estatísticas referentes à URSS, especialmente ao período stalinista, devem ser encarados com incerteza: os dados são poucos, contraditórios e distorcidos. Porém, não se põe em dúvida que o governo totalitário de Stálin, através do terror, matou milhões e prendeu ainda mais. As mortes atribuídas a Stálin são estimadas, normalmente, entre 20 e 35 milhões no total – entre vítimas da fome e da repressão que durante essa época assolaram como uma epidemia a União Soviética. Mesmo as estimativas mais modestas apresentam números absurdamente altos. Diante desses tão perturbadores fatos, é muito importante que nos perguntemos se os fins realmente justificam os meios – e, ademais, se esses fins realmente são, afinal, o que parecem ser. Tomar consciência das respostas a essas perguntas talvez seja a única forma de evitar que absurdos semelhantes à URSS stalinista venham a se repetir futuramente, e que seus erros mais uma vez assolem a humanidade.


2.4. Referências bibliográficas:

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

COURTOIS, Stephane et al. O livro negro do comunismo. Tradução de Caio Meira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1982.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Quem foi Lênin?

Não sou muito fã da história da União Soviética, mas hoje vou escrever um pouco sobre o Vladimir Ilyitch Lenin. Ele desempenhou um papel decisivo no século XX, graças ao seu talento visionário e estrategista. Após a execução de seu irmão Alexandre, ligou-se ao movimento revolucionário em 1887, depois de estudar direto abriu um escritório em São Petesburgo que logo virou o centro de propagandas e de atividades subversivas. Depois de se casar com a Nadedja Krupskaia, Lênin dedicou-se à análise de condições prévias para uma revolução na Rússia, sempre com ideias marxistas. Em 1990, exilou-se em Londres, Munique e Genebra. Idealizou um partido de "novo cunho" com ideais centralizadores e que seriam regidos por revolucionários profissionais qualificados. Com essas ideias Lênin participou do II Congresso do Partido Social-Democrata Russo, em 1903, onde a corrente de Lênin conseguiu se impôr. Desde então, essa corrente começou a ser chamada de Bolchevique (que em russo significa "de mais" ) e o grupo adversário de Mencheviques (que em russo significa "de menos ). A falência da Revolução de 1905 obrigou Lênin a voltar para a Rússia, mas novamente foi protagonista da Revolução de 1917 que foi chamada de Revolução de Outubro. Lênin faleceu em 1924 e foi enterrado no mausoléu construído para essa ocasião na Praça Vermelha de Moscou.
Depois volto com mais detalhes sobre outros acontecimentos que marcou a história da União Soviética.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Uma crítica à URSS - Primeira parte: a crítica filosófica.

Considerações iniciais:

Ao se discutir a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) necessário atentar para a separação entre “ser” (dimensão descritiva) e “dever ser” (dimensão normativa) – devendo a discussão ater-se somente à primeira dimensão. Isso se dá porque as perspectivas normativas são frutos não de dados objetivos e factuais, mas de teorizações filosóficas idealmente puras ou de especulações que extrapolam os limites de nossa experiência histórica.

Para explicar a importância da análise descritiva é válido citar o filósofo esloveno Slavoj Žižek – um marxista –, que afirma que “todas as melhores análises marxistas são sempre análises de um fracasso” (ŽIŽEK apud BUCKINGHAM et al). O que Žižek quer dizer é que há uma tendência entre os esquerdistas de remoer seus fracassos, pois isso permitiria “que se criem mitos sobre o que teria acontecido caso fossem bem-sucedidos” (BUCKINGHAM et al). Ele prossegue comentando que essa postura “permite evitar questões reais, tais como reavaliar a natureza da revolução política” (idem). E é justamente nessas questões reais que devemos nos focar.

Assim, falarei aqui somente daquilo que os fatos históricos e a experiência real podem de alguma forma comprovar, ainda que seus significados sejam passíveis de interpretações divergentes. Para estruturar a discussão, as críticas serão divididas em três aspectos: aspecto filosófico, aspecto sociopolítico e aspecto econômico. Sem mais demora, partirei para o primeiro aspecto.

1. Crítica ao aspecto filosófico:

1.1. O historicismo e a dialética:
De início, vale explicar o historicismo do qual se vale o pensamento marxista. Ele tem suas origens no filósofo idealista alemão Hegel. A filosofia hegeliana gira em torno da noção de “dialética”, que pode ser exposta da seguinte forma: cada noção, ou tese, possui em si sua contradição, a antítese, a qual só é solucionada com o surgimento de uma nova noção mais abrangente, a síntese. Tal processo continua a acontecer em espiral, alcançando níveis cada vez mais elevados; ou seja, cada síntese se torna uma nova tese, à qual corresponde uma nova antítese, cuja resolução leva a uma síntese ainda mais elevada.

A dialética hegeliana

Hegel liga esse processo à consciência humana, ou Geist. Isso leva à conclusão de que “a natureza da consciência tem mudado através do tempo e de acordo com um padrão visível na História” (BUCKINGHAM et al) – sendo, portanto, toda a realidade um processo histórico. Ademais, Hegel afirma que esse desenvolvimento histórico da consciência não ocorre ao acaso, possuindo de fato um sentido e uma finalidade. A tal finalidade, o “Espírito absoluto”, corresponde o conhecimento completo.

Como dito, Marx se baseia na dialética hegeliana. Porém, não aceitando seu caráter idealista, traz a ela o materialismo. Assim surge o materialismo histórico-dialético, ligado já não ao Geist, mas às relações de produção. É de acordo com essa noção que Marx e Engels (1998) afirmam que “a luta de classes é o motor da História”, e identificam como sua finalidade a sociedade sem classes, isto é, a sociedade comunista – surgida do atrito entre a burguesia (tese) e o proletariado (antítese).

A dialética marxista

Com base em tais noções, Marx acredita ter consolidado uma teoria “científica” do socialismo. No entanto, o método dialético marxista apresenta muitas falhas em relação à metodologia científica e ao rigor lógico. Entre outros críticos, o mais influente filósofo da ciência do século XX, Karl Popper, posiciona-se contra qualquer tentativa de fundamentação de leis gerais do desenvolvimento histórico, bem como qualquer tentativa “científica” de previsão histórica.

Popper (1980) afirma que não existem tais leis, mas apenas certas tendências – as quais são sempre passíveis de mudança, devido à imprevisibilidade tanto de fatores da Natureza quanto do próprio ser humano. Ademais, a realidade histórica é composta e influenciada por uma infinidade de fatores, sendo impossível reduzi-la a um só fator, como a luta de classes; da mesma forma, como nota Weber (2006), os seres humanos são influenciados por diversos fatores para além de seus interesses de classe. E, afinal, a força da criatividade e da inventividade humana nos permite produzir uma variedade de opções e de escolhas através das quais efetivamente fazemos a História, sendo inviável “ver todos os eventos da História dependentes de grandes causas originais ligadas pela corrente da fatalidade, como que eliminando os homens da história da raça humana” (TOCQUEVILLE apud ARENDT). Não há, portanto, absolutamente nenhuma base cientificamente rigorosa ou segura o suficiente na qual possam se basear supostas leis gerais da História.

A refutação do historicismo feita por Popper pode ser resumida em quatro pontos encadeados: toma-se por premissa que o curso da história humana é fortemente influenciado pelo aumento do conhecimento e da tecnologia; não se pode predizer, racional ou cientificamente, a expansão futura do nosso conhecimento; logo, não é possível prever o futuro curso da história humana; portanto, não se pode haver nenhuma teoria científica do desenvolvimento histórico que sirva como base para a predição histórica. Desse modo, é aniquilado o objetivo de métodos historicistas como o de Marx.

Refutando-se o método histórico-dialético marxista, refuta-se a crença no socialismo como uma necessidade histórica e como um inevitável porvir. Dessa forma, passa-se a entender sua implantação, tal como ocorrida na URSS, como um ato arbitrário – e não raro violento – de imposição, realizado por alguns poucos que, embora digam apenas seguir fielmente as “leis da História”, na verdade a tomam para si e a moldam de acordo com seus próprios interesses e com crenças que supõem ser superiores e “verdadeiras”.

1.2. A moral teleológica:
A filosofia socialista não desenvolveu nenhuma teoria ética formal. Isso se deve, em grande parte, ao conceito de práxis revolucionária – que prega a constante transformação das circunstâncias, tanto em termos de teoria quanto em termos de prática. No entanto, fica claro que os socialistas se baseiam largamente numa moral teleológica – consolidada sob a noção de “moral revolucionária”.

Teorias teleológicas (telos = fim) são aquelas que buscam explicar a finalidade dos seres. Aristóteles afirmava que o Bem é o fim a que todo ser aspira (BUCKINGHAM et al). Uma moral teleológica, portanto, é aquela que define o Bem como um fim universal, comum a todos. O Justo, por sua vez, seria apenas tudo aquilo que maximiza o Bem. Ou seja, tomada ao extremo, é a doutrina moral que define que “os fins justificam os meios” (desde que sejam “bons fins”).

Na doutrina socialista, o Bem é a própria sociedade socialista. Assim, legitima-se qualquer ação que busque alcançar esse fim – como prega a “moral revolucionária”. De fato, Lênin (apud MORENO) defendia a necessidade de uma “guerra prolongada, tenaz, desesperada, a morte” em nome do ideal socialista – que, segundo Trotsky (idem), seria “o maior bem da Humanidade”. Ou seja, em nome de supostos fins universalmente desejáveis, justificam-se barbáries universalmente inomináveis.

Para além de seu aspecto consequencialista, a moral revolucionária do socialismo também tem um caráter extremamente coletivista. De acordo com o líder revolucionário argentino Nahuel Moreno, a moral socialista exige que as necessidades individuais, bem como a liberdade e o prazer, “estejam subordinados e sejam assimilados em função de nossas normas morais, que têm seu objetivo central: a revolução e o partido” (MORENO). Ele prossegue afirmando que “a vida, a moral, a consciência e o próprio corpo físico do camarada de partido valem muito mais que si mesmo” (idem).

Percebe-se, pois, que, ao se seguir a moral socialista, o indivíduo – com sua dignidade, personalidade, seus direitos, escolhas, opiniões, desejos, potencialidades – é inteiramente eclipsado por barganhas políticas e cálculos de interesses sociais (definidos arbitrariamente por um planejamento central). Ignora-se que os indivíduos possuem diferentes concepções particulares acerca do Bem e do Justo, e que eles tendem a defender seus interesses e crenças próprios, acima dos demais. Além disso, como nota o sociólogo Álvaro de Vita, essa moral só pode operar com “exigências motivacionais heroicas” (VITA) feitas a cada indivíduo – exigências que vão muito além do razoável, e que não podem se sustentar sem o auxílio de uma forte coerção que obrigue os indivíduos a realizá-las.

Em oposição à moral teleológica socialista, há a moral deontológica de tradição liberal. Segundo essa formulação, o ato moral é definido pelo dever (deon = dever). Segundo Kant, o dever é definido pela razão individual (universal) dotada de autonomia – sendo portanto auto-imposto, e não imputado por terceiros.

Moral deontológica e moral teleológica

Com base nessas noções, Kant formula uma lei moral universal, o imperativo categórico, com duas formulações. São elas (1) o próprio imperativo categórico, que diz: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por sua vontade, lei universal”; e (2) o imperativo prático, que diz: “Age de tal modo que trates a humanidade, tanto em tua pessoa como na de qualquer outro, sempre como um fim em si mesmo e nunca como apenas um meio” (KANT).

As leis morais formuladas por Kant, apropriadas pelo liberalismo político, indicam as extensões e os limites de nossas ações, quando pautadas na racionalidade e na razoabilidade. Ou seja, nem o melhor dos fins justifica o uso de meios imorais. Tais leis trazem, também, as noções de liberdade e de dignidade humana – nas quais se baseiam, inclusive, os Direitos Humanos. Isso significa que todo e qualquer indivíduo possui, independentemente de quaisquer circunstâncias, certos direitos e liberdades fundamentais inalienáveis; ou seja, como escreve John Rawls (1997), “cada pessoa tem uma inviolabilidade fundada na justiça que nem mesmo o bem-estar da sociedade como um todo pode ignorar”.

Justamente por manter todos os indivíduos a salvo de contingências e arbitrariedades da vida social e política e garantir-lhes certos direitos que nada pode suprimir, a moral deontológica me parece muito mais satisfatória como fundamento para a organização social e para a ação política que verdadeiramente preze pela liberdade e por alguma igualdade.

Porém, não é difícil perceber que os revolucionários soviéticos davam pouca importância aos direitos individuais inalienáveis – inclusive o primeiro deles: a vida. Pelo contrário, estes eram colocados em segundo plano sempre que representavam um empecilho ao projeto socialista, sendo os indivíduos discriminados (de acordo com sua classe social, posição política, etnia etc.) segundo uma lógica que George Orwell (2003) deixa sarcasticamente clara em seu livro A Revolução dos Bichos: “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. Afinal, os indivíduos eram tratados pelos líderes soviéticos não como fins em si mesmos, mas como meios para que se atingisse um determinado fim (o Estado socialista).

Tais formas de pensar justificaram e legitimaram as formas de agir opressoras e violentas com que o Estado soviético por tanto tempo dominou o povo, e em especial aqueles que tinham a audácia de dele discordar ou de, por algum motivo, ser-lhe um obstáculo.

1.3. Referências bibliográficas:
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

BUCKINGHAM, Will et al. O livro da filosofia. Tradução de Rosemarie Zielgemaier. São Paulo: Globo Editora, 2011.

KANT, Immanuel. Fundamentos da metafísica dos costumes. Tradução de Lourival de Queiroz Henkel. Rio de Janeiro: Brasil Editora, 1967.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. Tradução de Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo Editorial, 1998.

MORENO, Nahuel. A moral e a atividade revolucionária. Disponível em: < http://www.marx ists.org/portugues/moreno/1969/moral/cap01.htm>. Acesso em: 01/04/2012.

ORWELL, George. A revolução dos bichos. Tradução de Heitor Aquino Ferreira. São Paulo: Globo Editora, 2003.

POPPER, Karl. A miséria do historicismo. Tradução de Octany S. da Mota e Leonidas Hegenberg. São Paulo: EDUSP, 1980.

RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

VITA, Álvaro de. Uma concepção liberal-igualitária de justiça distributiva. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69091999000100003. Acesso em: 01/04/2012.

WEBER, Max. A "objetividade" do conhecimento nas ciências sociais. Tradução de Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2006.